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Cadernos LabRI/UNESP - Núm. 23 · ISSN 2764-7552

O home office é o futuro do mercado de trabalho?

Por Matheus Valencia

A quarentena promovida pela pandemia do novo coronavírus isolou, ao redor do mundo, mais de 4 bilhões de pessoas. Muitos desses indivíduos, trabalhadores formais e informais, adotaram mecanismos que permitem a realização de suas tarefas de seus lares...

A quarentena promovida pela pandemia do novo coronavírus isolou, ao redor do mundo, mais de 4 bilhões de pessoas. Muitos desses indivíduos, trabalhadores formais e informais, adotaram mecanismos que permitem a realização de suas tarefas de seus lares. A radical medida do isolamento social intensificou uma tendência no mercado de trabalho: o home office. Conhecido por idealizar um escritório caseiro e destinado a uma pequena porcentagem de funcionários com funções específicas, o trabalho domiciliar tornou-se uma tendência global adotada por empresas como forma de combater os danos econômicos gerados pelo atual recesso.

Com uma aprovação, por gestores de empresas, de quase 80%, o home office possibilitou a integração de diversas tecnologias. Skype, Google Meet e Zoom são utilizados diariamente, por milhões de usuários, como veículo para a realização de reuniões. O pacote Office e ferramentas disponibilizadas pelo Google permitem que funcionários escrevam, planejem e apresentem projetos requisitados por seus chefes. A evolução da internet, nas últimas duas décadas, pareceu miraculosamente articulada para resguardar as necessidades de pequenas, médias e grandes empresas em tempos de crise. A impossibilidade de aglomerações pode, hoje, ser solucionada por uma ou duas plataformas com suporte irrestrito.

O recrutamento para o trabalho home office cresce exponencialmente a cada dia, acompanhando as necessidades dos mais diversos setores da economia. Na educação, aulas, palestras e cursos são ministrados a distância com professores capacitados e avaliações adaptadas ao meio. Escolas e faculdades particulares - e algumas das públicas - utilizam esse método como forma de evitar o cancelamento de semestres e o atraso de matérias que colocariam em jogo o futuro do aluno. A medida, entretanto, instaura questionamentos relacionados à desigualdade social; no Brasil cerca de um entre quatros brasileiros não possuem acesso à internet, e em áreas rurais e periféricas o número revela-se ainda maior.

Entretanto, o sonho de um escritório ao lado da cama, representando o conforto e a comodidade e isentando o indivíduo do stress diário proporcionado pelo trânsito e filas, parece sobrepujar questões socioeconômicas divisivas no futuro do mercado de trabalho. Uma pesquisa realizada pela consultoria de recursos humanos Randstad revela que 7 entre 10 brasileiros optaram por um futuro onde o trabalho não necessite de atuação presencial. Para essas pessoas, o modelo clássico de trabalho, realizado em amplos escritórios com inúmeros outros parceiros está obsoleto e não acompanha a constante evolução da tecnologia.

Para Álvaro de Mello, professor da Business School São Paulo (BSP), “o home office será a realidade de milhões brasileiros nos próximos anos, sobretudo nas grandes cidades sufocadas pelo trânsito”. A previsão pode parecer utópica, mas não intangível; para especialistas o trabalho em casa pode significar uma queda nos custos de empresas que gerenciam enormes instalações responsáveis por abrigar diariamente seus funcionários. Além disso, um estudo realizado pela Dell, denominado “Global Evolving Workforce”, salientou que a adoção desse método resultaria em uma maior produtividade dos funcionários e suas equipes, o bem estar propiciado fortaleceria o profissionalismo evitando hábitos desfavoráveis e conflitos internos.

Mas não só de benefícios o home office é constituído, como já brevemente mencionado pela questão socioeconômica. Nem todo profissional está preparado para orbitar no mesmo cômodo diariamente e realizar suas tarefas com excelência, além de empresas também encontrarem obstáculos ao ter que, essencialmente, fornecer meios para que seus funcionários tenham acesso às plataformas onde o serviço será realizado. A possível falta de organização somada ao excesso de distrações facilitaria a dispersão do indivíduo frente às suas funções, um autogerenciamento, se mal executado, poderia acarretar no comodismo e consecutivamente num quadro de procrastinação. A inexistência de um chefe, em sua forma física, possibilitaria o relaxamento da percepção de “pressão” durante a entrega de, por exemplo, um relatório. O histórico cultural criado no ambiente de trabalho que, de uma forma ou outra, abarca os malefícios do trabalho presencial, também proporciona a pontualidade e o respeito.

A volta à rotina de trabalho se mostrará muito diferente do que era antes da quarentena. A adoção de medidas sanitárias, como o espaçamento entre os postos de trabalho, representa uma elevação nos custos de empresas que, paulatinamente, se reerguerão perante a súbita crise econômica a qual enfrentamos. Um estudo da empresa Cushman&Wakefield revelou que 45% dos empresários entrevistados decidiram por uma redução do espaço físico após a crise e 30% entre eles adotarão essas medidas em virtude do sucesso encontrado pela implementação do home office. O mesmo estudo evidenciou um futuro homogêneo onde 40,2% das empresas que não realizavam o trabalho a distância o adotarão de forma definitiva após o fim da pandemia.

No exterior, grandes empresas como Facebook, Google e Twitter anunciaram oficialmente um prolongamento do regime de home office para além da dissolução da quarentena. Segundo Conrado Leisler, diretor geral do Facebook e do Instagram no Brasil, qualquer funcionário que opte pelo trabalho residencial até o fim do ano poderá executá-lo sem penalidades da empresa. O objetivo é garantir a segurança e a saúde dos trabalhadores que, numa situação de trabalho presencial, adoeceriam e facilitariam a disseminação do novo coronavírus. O Facebook, entretanto, sendo uma companhia digital, forneceu uma plataforma própria para o uso de seus funcionários, o Workplace, nome da plataforma, representa uma evolução na facilitação das demandas requeridas pela empresa.

Outras plataformas de gestão, como a Omie, resulta num gasto de aproximadamente R$ 900 por mês para cada funcionário, o valor pode parecer exorbitante para pequenas e médias empresas, mas para grandes companhias representam uma queda dos custos na manutenção presencial de seus trabalhadores. Empreendedores com menor poder aquisitivo podem aderir a ferramentas gratuitas de organização e logística, como o Trello (um espaço virtual baseado na mecânica de to-do list), o Google Drive (voltado para o armazenamento e compartilhamento de arquivos, o Slack (plataforma de envio de mensagens entre equipes) e também o Toggl (responsável por registrar suas horas trabalhadas). As opções são variadas e suas funcionalidades capazes de promover uma melhor experiência do trabalho doméstico sem imprevistos e obstáculos.

Cercado de benefícios, o home office representa então, uma forte tendência para o futuro do mercado, como já comprovado. Ao alinhar os propósitos dos trabalhadores ao constante caminhar evolutivo das tecnologias que nos cerceiam, o trabalho doméstico traz consigo projeções promissoras após o encerramento da pandemia. Entretanto, como citado antes, o mesmo não é atribuído a todos os indivíduos de forma similar, questões socioeconômicas como a ausência de dispositivos com acesso a internet e a capacitação de funcionários adeptos ao mundo virtual estampam as maiores dificuldades que a transição do trabalho pode encontrar nos próximos anos.

Além disso, ofícios necessariamente presenciais ligados à serviços básicos e de manutenção não podem ser realizados a distância. Por mais que uma grande porcentagem do todo migre para o ambiente digital, funcionários com responsabilidades internas deverão atuar presencialmente e a mudança não os afetará. Cabe, dessa forma, às empresas, beneficiarem tais indivíduos evitando uma segregação do ambiente de trabalho e a obsolência de suas funções. O home office por fim, encabeça o futuro de uma economia pungente, dinâmica e virtual, onde as lições aprendidas durante quatro Revoluções Industriais serão postas em prática e encaminharão o mundo para experimentação da quinta.

Referências Bibliográficas

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